Uma boa notícia para os “artistas da moda”: no Brasil, ela está começando a ser vista como arte. É o que diz a Carta do Editor da Edição de número 186 da revista BRAVO!, a mais renomada no que diz respeito a arte e cultura em nosso país. Seguem as palavras de João Gabriel de Lima, diretor de redação da revista.
De agora em diante, BRAVO! vai abrir cada vez mais epaço para a moda como expressão artística.
“Na pintura, houve o cubismo, os futurismo, o primitivismo. Na moda, houve Poiret.” A frase é do historiador da arte Kenneth Silver, professor da Universidade de Nova York, referindo-se ao papa da alta-costura francesa, Paul Poiret (1879-1944). Nos últimos anos, estudar a história da moda em paralelo com a história da arte vem se tornando comum dentro da academia. Faz todo o sentido. Da mesma forma que as roupas de Poiret traduzem a fantasia desenfreada das vanguardas do início do século 20, a moda funcional de Gabrielle “Coco” Chanel (1883-1957) se adapta perfeitamente à revolução ocorrida na Era do Jazz (não por acaso, el foi a estilista favorita da cantora Josephine Baker). E, se os vestidos curvilínios de Christian Dior (1905-1957) têm tudo a ver com a opulência e elegância do pós-guerra, nenhum estilista traduziu melhor a cultura pop dos anos 60 do que Yves Saint-Laurent (1936-2008), com seu uso revolucionário do couro.
O olhar que BRAVO! pretende lançar sobre o mundo da moda na reportagem especial que começa na página 51, é exatamente esse. A editora Gisele Kato e os repórteres Barbara Heckler e Jeferson Peres foram à rua não em busca do glamour dos desfiles ou dos números de um mercado cada vez mais pujante. Em sua radiografia da moda brasileira h0je, os jornalistas de BRAVO! buscaram aqueles que, com ousadia e criatividade, vêm determinando as novas tendências estéticas da área. Ou seja: na moda – assim como na música, na literatura, no cinema, nas artes visuais, no teatro e na dança -, BRAVO! se interessa pelos artistas e pelos novos caminhos que eles apontam com suas criações. Não por acaso, a reportagem especial se chama Moda e Cultura.
Em um longo ensaio a respeito do assunto, a historiadora da arte Amy Fine Collins, que escreve sobre estilo e estilistas para a revista americana Vanity Fair, lembra que a moda se tornou uma “arte cênica” muito antes das roupas cubistas de Poiret. Foi o inglês Charles Frederick Worth (1825-1895) quem criou os desfiles de moda como os conhecemos hoje (de olho no dinheiro, ele não escolhia as modelos pela beleza, mas pela semelhança física com suas clientes mais abastadas). Enquanto ficava rio, Worth acabou inventando uma forma fascinante de teatro – que, para além da reportagem especial, deve ocupar cada vez mais as edições regulares de BRAVO! daqui por diante.
Fonte: BRAVO! (edição 168 de agosto de 2011)